É hora de relembrar alguns dos grandes lançamentos da música brasileira e internacional que marcaram o primeiro semestre de 2022.
10. Baco Exu do Blues | QVVJFA?
Poucas vezes antes Baco Exu do Blues pareceu tão exposto quanto nas canções de QVVJFA? (2022, 999). Sequência ao material entregue pelo rapper no caseiro Não Tem Bacanal na Quarentena (2020), registro produzido e lançado no início do período de isolamento social, o trabalho de essência agridoce se divide entre momentos de maior celebração e versos consumidos pela dor. São composições ancoradas em relacionamentos fracassados, romances perfumados pelo sexo, medos e versos sempre intimistas, conceito que tem sido explorado desde o introdutório Esú (2017), mas que ganha novo resultado à medida que o artista baiano utiliza das próprias angústias como um importante componente de diálogo com o ouvinte.
9. Charli XCX | Crash
Embora tenha assinado com uma grande gravadora no início da década passada, Charli XCX nunca perdeu a própria identidade. E isso se reflete em toda a sequência de obras apresentadas pela artista inglesa. Do pop torto que embala o introdutórioTrue Romance (2013), passando pela formação do colaborativo Charli (2019), de onde vieram encontros com Sky Ferreira, Christine And The Queens e Troye Sivan, sobram momentos em que a cantora e compositora parecia testar os limites da música pop em estúdio, direcionamento que volta a se repetir no fino repertório de Crash (2022, Asylum / Atlantic).
8. Criolo | Sobre Viviver
Amor e ódio sempre foram encarados como componentes essenciais dentro da obra de Criolo, porém, nunca de maneira tão explícita quanto nas composições de Sobre Viver (2022, Oloko Records). Primeiro trabalho de estúdio do artista paulistano desde o flerte com o samba, em Espiral de Ilusão (2017), o novo álbum estabelece na contrastante combinação entre esses dois elementos um estímulo natural para a construção dos versos. Canções que partem das angústias e experiências pessoais vividas pelo rapper, como a recente morte da própria irmã, vítima de Covid-19, para mergulhar em um ambiente consumido pela desigualdade, repressão e momentos de maior desespero que caracterizam o atual cenário brasileiro.
7. Rosalía | Motomami
Passado o lançamento de El Mal Querer (2018), Rosalía simplesmente não descansou. Aproveitando da atenção recebida pelo público e imprensa, a cantora e compositora espanhola mergulhou em uma sequência de colaborações com diferentes nomes da música pop.
6. The Weeknd | Dawn FM
Em outubro de 2020, poucos meses depois de trabalhar na produção do bem-recebido After Hours (2020), de The Weeknd, Daniel Lopatin decidiu investir em um novo registro de inéditas como Oneohtrix Point Never, identidade assumida desde o início dos anos 2000. Durante o processo de criação do material, o produtor de Wayland, Massachusetts, encontrou em antigas estações de rádio da década de 1980 o estímulo para a formação de um repertório tão misterioso quanto hipnótico, conceito que se reflete em parte expressiva das composições de Magic Oneohtrix Point Never (2020), obra em que estreita a relação com Caroline Polachek (Long Road Home), Arca (Shifting) e o próprio Abel Tesfaye (No Nightmares).
5. Tim Bernardes | Mil Coisas Invisíveis
Ouvir as canções de Mil Coisas Invisíveis (2022, Coala Records / Psychic Hotline), segundo álbum de Tim Bernardes em carreira solo, é como folhear as páginas de um livro. São versos autobiográficos, por vezes descritivos, longos e difíceis, como se estruturados para serem desvendados pelo ouvinte.
Fragmentos textuais que parecem dançar pelo tempo, como em uma antologia de reminiscências empoeiradas e memórias de um passado ainda recente, remontando experiências sentimentais vividas pelo artista desde o lançamento do disco anterior, Recomeçar (2017).
4. Hatchie | Giving the World Away
Harriette Pilbeam, assim como Soccer Mommy, beabadoobee e Snail Mail faz parte de uma geração de novas compositoras que encontrou no rock produzido entre o final dos anos 1990 e início da década de 2000 uma importante fonte de inspiração para a própria obra.
3. Mitski | Laurel Hell
Havia uma sensação de dever cumprido quando Mitski deu vida ao elogiadíssimo Be The Cowboy (2018). Depois de uma sequência da álbuns em busca da própria identidade, caso de Lush (2012) e Retired from Sad, New Career in Business (2013), e do início da parceria com o co-produtor Patrick Hyland, que resultou em trabalhos como Bury Me at Makeout Creek (2014) e o maduro Puberty 2 (2016), a japonesa naturalizada estadunidense parecia pronta para enfrentar os próprios conflitos e se assumir como protagonista em uma obra marcada pela ressignificação de sentimentos e temas historicamente associados a homens brancos.
2. Amber Mark | Three Dimensions Deep
Filha de pai jamaicano e mãe alemã, Amber Mark nasceu no Tennessee, porém, passou grande parte da infância e adolescência viajando pelo mundo. Foram diferentes países, incluindo um longo período de habitação em um monastério em Darjeeling, na Índia, onde se envolveu fortemente com a cultura local. Desse permanente cruzamento de fronteiras e contato direto com outros povos veio a relação da artista com a música, sempre diversa, pluralidade que acaba se refletindo de forma bastante sensível em cada uma das canções que abastecem o primeiro trabalho da cantora Three Dimensions Deep (2022, PMR).
1. Terno Rei | Gêmeos
Longe do repertório enevoado que os integrantes da Terno Rei haviam testado no introdutório Vigília (2014), Violeta (2019), terceiro álbum de estúdio do grupo paulistano, não apenas serviu para estreitar a relação do quarteto com a música pop, conceito iniciado durante a produção de Essa Noite Bateu Com Um Sonho (2016), como aproximou o som produzido pela banda de uma parcela ainda maior do público. Utilizando de uma linguagem deliciosamente acessível e nostálgica.
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